Amor Incondicional

Querida Gertrudes,

Hoje, num daqueles devaneios a respeito da vida, percebi o que me falta. Ah, Gertrudes, falta-me aquilo que você sente por aquele menino, aquele amor incondicional do qual falávamos outro dia. Quem me dera tivesse o prazer de um amor de verdade, desses incondicionais e não-inventados com quem eu pudesse repartir meu corpo e minha alma sem alarde. E que esse amor chegasse de mansinho ou não, e pudesse traduzir os anseios do meu coração e que estivesse tão próximo quanto esse lençol que agora desliza na minha pele nessa longa noite de lua cheia enquanto sonho acordada. E que esse amor, tendo-me tão seu, cuidasse dos meus segredos e vendo-me tão transparente, me amasse incondicionalmente. E, dessa forma, ele seria o possuidor de todas as minhas chaves, de todos os meus medos, dos meus sorrisos e de todos os meus beijos. Quem me dera um amor que fosse assim do tamanho do sentimento que habita em você... quem me dera, quem me dera...


Meu abraço carinhoso,

Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada.
Arnaldo Antunes