terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Meias Palavras



"Ao Menino Mau, com carinho."


Parece-me que foi ontem que lhe conheci... tudo parece tão recente. Tão recente aquela festa, tão recentes as brigas, tão recentes as suas viagens, os seus carinhos recentes, as conversas, as bebedeiras e os jogos de futebol esquisito. Traição.
Tão recentes as desconfianças, tão recente quando conheci a sua família, tão recente nosso primeiro beijo, nosso primeiro sexo. Tão recente essa minha lembrança... e tudo mudou tão recentemente que tenho medo. Vida de migalhas. Tão recente o término, tão recente o último beijo, tão recente o último sexo, o último carinho, o último abraço de solidão, o seu namoro, a sua paixão, a sua surpresa, os seus filhos, o seu laço matrimonial, a sua idéia, a sua possibilidade de demissão, o seu tudo e nada, os retratos em branco e preto, mais amarelos do que nunca, os presentes, o presente, o passado, o futuro, o vão, os vis, a fresta da porta que se fechou, o meu desgosto, as minhas más lembranças e as minhas descobertas. Descobri quase tudo o que você aprontou... tudo o que eu não merecia e não queria, e não acreditava, e não queria novamente, e negava, e fugia fugazmente... escondia-me a verdade tão clara por amor, por vergonha, por ego, por achar que isso não fosse acontecer comigo. O mundo caiu, as pétalas no chão do inverno, a descoberta, as camisinhas na mochila de viagem ... traição... a mágoa, a raiva, o desprezo, a solidão, o desgosto, o desespero, a paixão... caíram-me as máscaras no meio da apresentação e eu tive vergonha, vergonha de mim, de você e do mundo. Falta de vergonha, desvergonha e sem vergonha. Vergonha por ter sido cega, nojenta, patética. Sim, patética, pateta, patifa. Patinei em terra arenosa, hostil. Fui idiota, imbecil, indigente. Recriei-me de forma absurdamente irresponsável para tolerar o imensurável, o indesculpável. O bêbado e a equilibrista. Traição.
Amarguei gota por gota das minhas lágrimas que rolavam incessantes e contínuas dos meus olhos que não acreditavam na verdade bruta e sem escrúpulos que se anunciava diante deles. E semana a semana novas descobertas, novas dores em um coração sem estratégias... E assim foram dois, três meses... e essa dor só aumentava. Como podia sentir tanta dor?
Neguei, desde sempre, esse sentimento ridículo que sentia. Neguei, maldisse, gritei e me interrompi com mais palpitação e dor. Pulsações. Você consegue imaginar essa dor? Neguei-lhe como Pedro negou Jesus. Dor firme e longínqua. Dor pela verdade mentirosa, ou pela mentira verdadeira... dor pelo engano de tantas vezes. Agora são 0h07 do dia 05 de setembro, e eu choro. Que minha raiva passe, que meu desprezo também, que minhas lágrimas deixem de rolar e que eu me esqueça de você. Nego a sua existência e o sentimento que ficou dentro de mim. Quero a indiferença para que eu possa retribuir o que você me deu. Isso não é vingança... é um retorno bem modesto de todo o mal que você me fez. Não lhe desejo mal, só quero lhe desejar nada.





(...) De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma.
Vinícius de Moraes

Escrito em setembro de 2008

10 comentários:

  1. Uma obra de arte este texto. O meu preferido. Sumi, mas prometo que volto...só não quero magoá-la com palavras impensadas.

    M

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  2. Gosto tanto desse teu texto.Mas como seria bom se ele fosse só um texto, infelizmente não é.

    O lado positivo disso tudo é que toda essa história estreitou a nossa amizade, lembra?!

    Beijooo

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  3. Nossa
    vc tem bastante criativadade e paciencia :D
    lindo texto
    parabens...

    abraços

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  4. vc tm muita criatividade,
    muito legal
    gostei d++


    http://sonabrisa.nomemix.com/
    comente as postagen mais antigas tabem,
    e entre na comunidade dele
    http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=23965519
    atualização diaria.

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  5. Muito bem escrito ;D É seu mesmoo?

    Agora uma coisa eu tenho que falar (não tem nada a ver com o seu texto mas tem a ver com o post): Não gosto nem um pouco de Vinicius de Moraes! Nem dele nem do Machado :/ Acho que já tive que ler tantas obras dos dois que acabei enjoando :P

    Depois passa lá:

    BLOG MENTE CUCA
    http://mentecuca.blogspot.com/

    E parabéns pras duas blogueiras :D

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  6. ÓTIMO TEXTO, BELO BLOG!
    OBRIGADO PELA VISITA,BJO!
    PS: COMO SE PARECE UM POETA?

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  7. Esse é o meu texto mais sofrido, mais angustiante, que mais me emocionou. Senti tudo isso, e senti muito mais do que estas palavras postas. Pelo menos me rendeu um texto todo esse sentimento contido no meu peito.
    Obrigada pelos elogios.

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  8. Gertrudes, como um homem pode ter feito isso com uma gatinha como você??? Gatinha e ainda é inteligente! Vem pra BH que a gente conversa. Beijos.
    Menino bom

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