Clarissa sentia seu coração latejar. Era a primeira vez depois de tanto tempo que se apaixonava. Ela, garota de quase 30 anos, com longa experiência amorosa, profissional, social, se encontrava perdida em meio ao turbilhão de pensamentos e pulsações que afloravam em sua racionalidade peculiar.
Perguntava-se o que Ricardo havia feito com sua cabeça, o porquê daquela avassaladora paixão... Quem era aquele Ricardo? E respondia-lhe com ardor e descaso que era um homem de seus trinta e poucos anos, desengonçado e tímido... ah, ele era inteligente. Isso a encantava.
A menina acordava com suspiros demasiados durante a noite, e esperava por um momento de conclusão. Sim, ela era pessimista e achava que aquela situação uma hora acabaria. Armava um jeito, em sua cabecinha complexa e estranha, de acabar no início, para que não se acabasse no fim. Ela queria que isso acontecesse em breve, subitamente.
Ricardo tinha um beijo selvagem que distribuía por todo o corpo de Clarissa e aquele olhar malicioso a arrepiava. Ela ansiava o fim daquela relação. Como planejaria? Ela arquitetava tim tim por tim tim aquela loucura de um término triunfal, como o daquele filme Encontros e Desencontros de Sofia Coppola que assistiu a tantas vezes. Tinha de ser daquela forma, pensava Clarissa. E sua obsessão durava noites a fio e ela esperava o momento certo.
Foi ela quem marcou o encontro numa tarde fria e cinza. Aquele dia seria o ideal.
Eles se olharam e sentiram um clima de tensão naquele leve abraço, algo havia mudado. Eles haveriam de guardar os momentos bons, somente os bons.
E foi assim que tudo aconteceu... Aquele dia foi o último de suas vidas.

Essa ansiedade de viver tudo de uma vez só, ansiedade pelo final, pelo início e pelo ponto de intersecção.
E é neste ponto de intersecção que nos encontramos e nos despedimos.
Daniela - alterego
Daniela - alterego
Hummmm...Que final poeticamente melancólico... :^
ResponderExcluirEla tentou arquitetar tanto um final breve, que acabou consolidando as coisas.
ResponderExcluirAh, essas mulheres da Daniela..ai ai
Beijo
Essa ansiedade de viver tudo de uma vez só, ansiedade pelo final, pelo início e pelo ponto de intersecção. E É neste ponto de intersecção que nos encontramos e nos despedimos.
ResponderExcluirGarota de quase 30? Adorei a sutileza!
ResponderExcluirO medo é algo que nos impede de prosseguir. E foi justamente o medo que impediu que Clarisse se entregasse ao amor do Ricardo. Um amor sem culpa, sem compromisso de ser eterno, apenas com o compromisso de ser intenso.
ResponderExcluirExistem muitas Clarisses, que preferem renunciar ao amor, com medo de uma decepção.
O ponto de intersecção, este é o que passou. Ficaram as boas lembranças. Que o ponto não seja apagado, e que hajam outros.
ResponderExcluirLembranças daquele que se afasta cada vez mais do Sol. E que nem um planeta é, como almejou ser.
se apaixonar e sempre bom...não importa a idade se tem 15 ou 30anos...o importante ea amoção que se sente...
ResponderExcluirPlutão,
ResponderExcluirEstivemos num ponto de intersecção, nos encontramos e nos despedimos. A vida é assim, efêmera. O que se viveu fica para a história. O que não se viveu, fica na cabeça. O tempo não para. Nunca mais seremos os mesmos.
Um beijo.
Todos os amores passados levam um pouco de nós e deixam um pouco de si.
ResponderExcluirToda experiência vivida, todos os beijos dados,
todos os abraços apertados, quando lembrados no futuro nos fazem sorri.
Clarissa jamais teria algo carnal com um "homem de seus trinta e poucos anos, desengonçado e tímido... ah, ele era inteligente. Isso a encantava." (Mesmo que ele a encantasse!)
ResponderExcluirAzar da Clarissa...talvez o ("beijo selvagem que distribuía por todo o corpo de Clarissa e aquele olhar malicioso a arrepiava") beijo fosse muito mais selvagem e o olhar muito mais malicioso se ambos fossem reais.
Notável anônimo
Notável Anônimo,
ResponderExcluirVocê afirma que a Clarissa não teria algo carnal com um homem tímido e desengonçado, contudo, me parece que a Clarissa gosta de desafios. Ela sentia tesão pela inteligência desse homem...
POssivelmente o beijo seria mais selvagem e o olhar mais malicioso se eles existissem... será que não existem???
Anônima Notável
Não. Não existem.
ResponderExcluirAinda tenho minhas dúvidas. Está escrito. Eles existem em algum lugar, em alguma cabeça, em alguma situação. Eles existem.
ResponderExcluirExistiriam se existissem em 2 cabeças. Não. Definitavamente eles não existem.
ResponderExcluirSão muitas pessoas no mundo. Possivelmente existem em duas cabeças. Que tal falarmos com quem escreveu? Possivelmente existem na cabeça dela e na de uma outra.
ResponderExcluirNa verdade não há fim. Os dois nem sabem ao certo como começou, então por que terminar? O tempo é senhor de todas as coisas, como estes dois mortais tentarão enfrentá-lo? O ideal é "pagar pra ver" e com certeza tantp Clarissa quanto Ricardo estão dispostos a isso.
ResponderExcluirNão sabemos onde começou porque o texto não diz. Mas eles devem saber como começou. É melhor levar as coisas boas. Para que insistir em algo que não deslancha? O tempo apaga e leva. Ou traz. Ou fica. Ou retorna. Ou torna... Ou orna.
ResponderExcluirMas os dois não podem olhar um para o outro como ornamento. São muito mais que isso. São sentimento, alma, carne, coração. O que ocorre é o pessimismo latente em uma das partes. Deixem -se aproveitar e tudo ficará bem.
ResponderExcluirComo já dizia Vinícius de Moraes "Que todo grande amor/Só é bem grande se for triste". Ou ainda Guilherme de Almeida "- É que nossa alma às vezes adivinha/que perder um amor não é tão triste/ como pensar que havemos de perdê-lo".
ResponderExcluirPerder não é tão doloroso quanto a ideia de que vai perder esse amor um dia. Que se perca antes de se achar que perdeu!
Acho que Clarissa pensou nisso quando decidiu acabar com o que ela tinha com Ricardo.
Clarissa precisa lembrar-se de que antes de Vinicius e Guilhermes, vem a vida e ela é um meio termo entre Aristóteles e Plataão, entre Apolo e Dionisio. A vida é a vida e deixemos nos levar pór ela.
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