quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Complexidade

Lá estávamos sentados dentro da lanchonete... Olhávamos um para o outro e queríamos falar coisas, mas não conseguíamos. Ele me sugeriu uma brincadeira. Eu aceitei. Pegou um guardanapo e começou a escrever:

- Quero você. Você quer?

- O quê?

- Tudo.

- Tudo é um pronome indefinido. Defina o "tudo".

- Alma, coração, calor, boca, suor, cheiro, corpo, língua, pêlos, ausência de pêlos, tudo.

- Qual era a pergunta mesmo?

- Você quer o meu "tudo"?

- Quero algo além do seu tudo.

- O que está além?

- O que você não mostra, o obscuro.

- Para ver o obscuro você é quem deverá iluminá-lo.

- Não tenho luz, não quero iluminá-lo. Quero somente saber o que há nele. Que se abra a caixa de Pandora e solte o que você tem realmente dentro.

- Apenas dê-me atenção, ouça-me, entenda-me, aceite-me. Faça amor comigo e não sexo.

- Eu não costumo misturar as coisas. Você terá o que me der. As coisas boas e as ruins.

- Nossa! Quero você agora! Eu sou o que tenho pra te oferecer. O claro e o escuro. O amor e o sexo. Mais amor ou mais sexo, depende da sua proporção de amor e de sexo.

- Faço sexo com amor, mas não misturo uma coisa com outra. O sexo é corpo e amor é alma. Corpo e alma são diferentes pra mim. Você terá carinho, o meu carinho. Poderá ter o meu amor, contudo, isso é uma outra história.


E assim nos beijamos e seguimos o nosso caminho. Separados. E fim.


9 comentários:

  1. Nossa, muito legal o texto, o diálogo!
    É difícil mesmo a gente encontrar alguém q saiba fazer amor e sexo, e acima de tudo distinguir os dois!

    Sucesso a vc!

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  2. Isso tudo é complexo demais pra essa pobre(ou nobre) menina aqui.

    Amor....sexo, eu fico com o amor.

    P.s.Não adinta, sou uma romântica incorrigível.

    Beijo

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  3. ainda to aqui refletindo sobre a complexidade do assunto do texto.
    mas legal, no mínimo, profundo!

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  4. Olá, obrigado pela visita ao blog, também detesto novela, e faço de tudo ao meu alcance para "esculhamba-las".
    Mas falando do seu post, muito interessante, adorei a parte do " tudo é um pronome indefinido", "defina o tudo", literatura das boas
    parabéns.

    PS: se uma dia eu descobrir o motivo da novela das 20:00 começar às 21:00 eu te digo.

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  5. O texto é perfeito.
    O blog é lindo demais!!!!
    Parabéns!!!
    Criativo!Inteligente e tem conteudo!
    TE CUIDA!!!
    BOM FIM DE SEMANA PRA TI!!!

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  6. Realmente, é preciso querer algo além do tudo,
    já que esse tudo é um pronome indefinido.
    Bjoooooooooooooo!!!!!!!!!!!

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  7. Gostei muito da sua definição de tudo, confesso que não havia parado para pensar nisso. Mas o que mais me chamou foi a ``caixa de pandora`` pois, como sabemos, quando aberta....é preciso arcar com as consequências, não se pode fechar e fingir que nada aconteceu. É uma pena que o desencontro do querer impeça um encontro entre corpo e alma, temos que nos permitir se aventurar no desconhecido para nos conhecer e conhecer o outro. Através do sexo não se pode chegar próximo da alma, ou pode?

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  8. Podemos chegar à alma pelo sexo, nada impede. Mas é algo mais racional, corporal. Romantizar o sexo até chegar à alma é o caminho mais difícil, contudo não impossível. Quanto à caixa de Pandora, acho que é necessário abri-la para conhecer o que há de encantado nela... Tome esse trecho do Rubem Alves: "é que cada pessoa, com sua sala de visitas limpa e ordenada, aberta à visitação geral, tem um fascinante quarto de mistério onde só se penetra roubando a chave. Minha profissão é roubar chaves... E até mandei gravar em madeira as palavras de um verso de Drummond: "Trouxeste a chave?"
    Alguns analistas há que pensam como as minhas tias: acham que o quarto proibido está cheio de coisas terríveis, restos de naufrágios, corpos esquartejados detritos, excrementos, fedores. E é isso que encontram, pois a gente só encontra o que está buscando. Mas, para mim, menino naquele lugar proibido, as coisas terríveis são apenas molduras para coisas encantadas, imobilizadas em sono, fora do tempo, como a Bela Adormecida, em meio ao pó, às teias de aranha, às heras e plantas selvagens, à espera de alguém que dará o beijo que quebrará o feitiço...
    Assim é esse quarto da minha casa. Nele cabe tudo: psicanálise, poesia, idéias em gestação. E poderei mesmo incluir coisas que outras pessoas me enviarem. Como o "Quarto do mistério" do sobrado do meu avô, não são todos que gostarão de ficar nele. Só os amigos..."

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